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tomara que niemeyer tenha ido para um lugar com sombra

Orlando

06/12/2012 09h51

sempre achei estranho o quanto o arquiteto niemeyer era incensado.
especialmente quando eu tinha que percorrer algum espaço planejado por ele.
dezenas de metros de puro concreto entre um bloco e outro, debaixo de um sol senegalês e sem uma única sombra, refresco para o cucuruto cozido.

desejei que seus projetos nunca saíssem da maquete a não ser que fosse pra fazerem parte de cenários de filmes futuristas.
aí, sim.
cidades futuristas, com habitantes e transeuntes autistas que pouco se importassem com conforto, bem estar e acolhimento.

é certo que ele nunca foi morar em brasília e, sim, vivia com a janela virada pro mar.
gênio mas não bobo.

fiz esse desenho acima para uma exposição paralela do festival internacional de quadrinhos de belo horizonte anos atrás. mostra a dureza que é visitar o memorial da américa latina em são paulo num dia de verão.
se ele tivesse alguma fé, diria "vá com deus". como não, desejo a ele um lugar com um pouco de sombra para a eternidade.

 

ps. como há um tanto de comentários aqui e muitos no fêice, tô me dando a liberdade de fazer um ps em meu próprio texto.

niemeyer foi um desses talentos raros. não é o papai aqui que vai discordar do óbvio.
como todo gênio, provoca opiniões controversas.
o que me parece (e foi o que eu escutei num depoimento dele hoje ainda) é que o compromisso do "poeta do traço" era com a beleza e nesse ponto ele foi absolutamente coerente.
obras com linhas sofisticadas e sensuais são muito mais do que a aridez do pátio do memorial mas como, ao contrário de vários colegas do desenho, não fiz arquitetura nem nunca passou pela minha cabeça fazer.
nunca estudei a obra dele mas conheço o suficiente para poder dar alguma opinião pelas coisas que vi em brasília, são paulo, belo horizonte e curitiba.
minha opinião é a de um turista, de um passante, de um sujeito que andou a pé por esses lugares, de um leigo não contaminado pela cátedra.
tenho amigos que amam morar em brasília ou no copan.
bem, eu moro em são paulo e gosto de minha casa, de meu estúdio e de regar as plantas de manhã.
estamos empatados.

ele vivia de frente pro mar e isso é fato. sorte e mérito dele que soube viver além da obra que criou.

perguntam se tenho problemas com comuunistas.
claro que não. posso não simpatizar com ditaduras, com censura, com gente presa pelo simples fato de discordar mas isso acontece em regimes de esquerda e direita.

alguém falou de chutar cachorro morto.
esse cartum eu fiz em, salvo engano, 2007, quando ele estava bem vivinho.

uma outra leitora chamou meu texto e desenho de burros.
tenho um blog para dar minha opinião e para trocar idéias.

por sorte estamos num país livre e podemos falar, conversar, mandar rezar missa para um ateu ou fazer cartum com ele chegando no céu.

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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