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hocus pocus revela o amor entre pai e filha

Orlando

23/11/2012 15h40


blogdoorlando –
hocus pocus é um livro sobre mágica?
do que se trata?
Ionit –
meu pai tinha uma polaroid SX-70, maletinha de couro, linda.
me apresentou a câmera contando que, se eu segurasse a foto e dissesse  "hocus pocus", as palavras mágicas, a imagem aparecia no papel instantaneamente.
ele gostava de contar como fiquei fascinada quando a imagem, de fato, apareceu.
muitos anos depois, enquanto desenhava, caiu a ficha: continuo esperando esse momento de ver uma imagem aparecer no papel, feito mágica. o fascínio ainda é o mesmo.
a partir desse evento, a história conta a relação de um pai e uma filha que se conhecem 'no meio do caminho' e vão aprendendo juntos a ser pai e filha.
Kiara Terra –
Fala do tempo que as coisas levam para nascer. Tempo necessário para os vínculos de afeto se estabelecerem. Fala dos encontros e das descobertas partilhadas entre pai e filha. Sabe a sensação de estar vivendo algo importante e único? O livro fala desses instantes. Dá pra dizer que fala de coisas especias como "mágica".

 

blogdoorlando – se a estória tem algo de biográfico, como foi trabalhar em dupla?
Ionit – conheci a kiara contando história na livraria da vila, no lançamento de um livro que eu tinha ilustrado.
fiquei tão emocionada com a maneira dela contar que fui falar com ela e deu vontade de fazer um livro juntas. uma vontade instantânea. só ainda não sabíamos o quê.
algum tempo depois, nos encontramos na livraria, outra vez, para mostrar nossos livros preferidos uma à outra.
nesse dia contei pra ela a história do meu pai e da polaroid mágica.
ela perguntou: "posso contar?".
topei.
ela mandou uma primeira versão no mesmo dia, se não me engano, mas ainda levou um bom tempo até chegar nesse texto final e até recebermos o o.k. da editora para começar.
a história que ela escreve é doce e usa ingredientes comuns à infância de nós duas: um pai que chega depois e que se transforma num super paizão, um pai "de verdade".
Kiara Terra – Foi um encontro. Eu e Ionit temos histórias parecidas. Ouvir ionit me levou a encontrar minha própria história. Ionit me contou um segredo. A empatia foi tão grande que de alguma forma contei a ela através das palavras que encontrei. Nesse processo partilhamos cenas de quando eu era pequena sensações fotos. . Fazer esse livro foi conhecer ionit quando era menina e me mostrar para ela também do lugar das minhas memórias de infância.

blogdoorlando – como se lida para escrever algo sobre as lembranças de outras pessoas?
Kiara Terra – Foi a primeira vez.
Ionit me contou sua história. Dentro dela havia alguma coisa que eu entendia de modo tão pleno e simples que escrevi a primeira versão no carro voltando para casa depois de ouvi-la contar.
Depois reli e com o tempo encontrei o fim da história que é uma mistura do relato de ionit com uma cena criada por mim. Acredito que ali nos encontramos de verdade. Criar a cena em que a menina recebe um presente do pai foi partilhar com ionit a sensação de filiação que criei com meu pai e que é muito próxima de tudo que ela me contou.
Para simplificar eramos duas meninas nossas memórias e duas moças crescidas criando sentido para nossa história.Foi muito simples aberto e intenso. Acho que as pessoas tem histórias parecidas e que criar junto é um exercício de adaptação e pertencimento.

blogdoorlando – que tipo de referências foram usadas para a criação das ilustrações?
Ionit – principalmente, minhas fotos de infância.
algumas eram polaroides mesmo, que têm aqueles tons bem particulares.
usei também fotos de família de alguns amigos e trabalhos de outros fotógrafos que usam polaroid.

blogdoorlando – vcs pensam em formar uma dupla de criação ou esta foi uma experiência única?
Ionit – essa foi, com certeza, uma experiência única, no sentido de ser muito particular.
normalmente, um ilustrador pode trabalhar a partir de um texto de outra pessoa ou então ilustrar seu próprio texto, ou ainda, fazer um livro sem texto.
esse troca-troca total (eu conto, kiara escreve, eu ilustro) é meio fora do padrão mesmo.
é um baita exercício de desapego de autoria: não é meu, não é seu, é nosso. mais que quando os papéis de cada um são muito estabelecidos.
de minha parte, tenho vontade de repetir a parceria, sim.
Kiara Terra – Tenho muita vontade de trabalhar com ionit. Adoro o jeito como ela ilustra. Aprendo muito com o modo como ela faz suas escolhas como olha para o mundo.

 

 

 

 

 

quem é ionit zilberman:
nasceu em tel aviv e vive em são paulo desde os seis anos de idade.
formada em artes plásticas pela FAAP, trabalhou durante alguns anos como ilustradora para diversas revistas.
atualmente ilustra livros infantis, tendo publicado em torno de trinta livros.
quem é kiara terra:
é escritora e contadora de histórias. criou o método de narração de histórias chamado a história aberta. são narrativas colaborativas que acontecem com participação do público e que tem se tornado um instrumento pedagógico abrangente tanto na formação de professores como em espaços de mediação de obras de arte museus exposições. há 2 anos viaja o Brasil formando educadores.

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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