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Orlando

03/07/2012 17h54

pra mim, a ilustração editorial brasileira se divide entre am/dm, antes e depois da mariza.

mariza dias costa nasceu em 1952, na guatemala. filha do diplomata mário loureiro dias costa, um dos mentores do seminal show da bossa nova no carnegie hall em nova iorque. viveu em países como suíça, perú, itália, paraguai, frança e iraque.

com esse tour pelo mundo e uma educação eclética, mariza pode familiarizar-se com línguas e culturas. fala inglês, francês, italiano e espanhol, além de ter conhecimento das escritas árabe e grega.

 

 

 

auto-didata, em uma de suas passagens pelo rio antes de sua volta definitiva ao brasil, passou a colaborar com o jornal opinião e com o pasquim onde conheceu cartunistas como jaguar, fortuna e ziraldo. conheceu, também, aquele que seria o seu maior parceiro no jornalismo: paulo francis.

essa parceria fez história nas páginas de quartas e sábados na ilustrada, da folha de s. paulo.

francis escrevia metade da página e a outra metade era ocupada por um desenho inacreditavelmente vigoroso e explosivo de mariza. olhos esbugalhados, dentes à mostra e figuras insólitas ocupavam a página num misto de sofisticação e mistério já que ela usava um artifício pré-photoshop: o xerox.

 

 

dentro das lixeiras da redação ela encontrava pedaços de cópias borradas e cheias de texturas.

esse monte de lixo, que ela chamava de marizatone, era sua matéria prima, partes de uma arte formada de desenhos, recortes, durex e muita cola pritt.

não era difícil ela se encantar com as filigranas de uma gravata ou de uma camisa e, sem cerimônia, pedir a peça emprestada para fazer mais um lote de cópias enquanto o descamisado esperava no banheiro.

 

 

mariza havia começado a ilustrar na folha em 1979, quando se mudou para são paulo, onde vive até hoje.

nessa época começou a inventar um tipo de ilustração que deixaria marcas em todos aqueles que tiveram a oportunidade de ler o folhatim e a página de opinião da folha e daqueles que tiveram o privilégio de trabalhar com ela no jornal.

 

 

no início dos anos 90 a folha partiu para mais uma mudança no projeto gráfico e decidiu usar fotografia no lugar da ilustração dela.

decisão equivocada. francis escrevia sobre vários assuntos no mesmo texto.

a briga na edição era eleger uma única foto que iria para a página. a foto gelada (jargão jornalístico) congelava a página. o desenho de mariza, por sua vez, incendiava todo o texto.

mariza pediu demissão.

 

 

paulo francis trocou a folha pelo estado pouco tempo depois e se tornou, também, um dos grandes comentaristas em telejornais da globo.

mariza continuou sua carreira frilando em outras publicações.

 

 

parte da história das artes gráficas no brasil, mariza continua trabalhando e sempre surpreendendo.

vozes do inconsciente ainda lhe sopram como suas ilustrações devem ser produzidas e essa inquietação ainda continua a nos provocar.

 

num outro país ela seria cultuada como um ralph steadman ou gerald scarfe o são.

mariza ilustra a coluna do contardo calligaris, na folha, às quintas-feiras e continua muito à frente de seu tempo.

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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